Sophia de Mello Breyner Andresen
Luís Cardoso, escritor timorense, declama poemas de Jorge Lauten e Sophia de Mello Breyner Andresen.
Autoria: SissaFrota
A Forma Justa
Sei que seria possível construir o mundo justo As cidades poderiam ser claras e lavadas Pelo canto dos espaços e das fontes O céu o mar e a terra estão prontos A saciar a nossa fome do terrestre A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia Cada dia a cada um a liberdade e o reino — Na concha na flor no homem e no fruto Se nada adoecer a própria forma é justa E no todo se integra como palavra em verso Sei que seria possível construir a forma justa De uma cidade humana que fosse Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
Terror De Te Amar
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição Onde tudo nos quebra e emudece Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro Livre como o vento e repetido Como o florir das ondas ordenadas.
Autoria: Dizedor